30/12/2010

português incorrecto

Tinha vinte e um anos, morava numa terra chamada Xai Xai algures no continente africano, junto de uma praia de areias douradas e águas límpidas, tinha de meu um gato e uma galinha, o gato chamava-se sabu e a galinha não tinha nome, por companhia tinha um rapazito negro, de doze anos que dava pelo nome de Semião, o meu marido trabalhava a doze quilómetros de lá, não havia ninguém branco por perto

 

Fiquei doente com paludismo, como nunca tinha estado em contacto com o parasita foi de (caixão a cova) fiquei com quarenta graus de febre, escusado será dizer que não conseguia fazer o comida, mas alguém teria que a fazer, como não havia mais ninguém foi ao semião que calhou a quase hercúlea tarefa, ele só tinha doze anos e com a agravante de não conhecer os hábitos dos brancos. Coitado lá ia com a minha ajuda. Da cama ia-lhe dizendo «Semião põe a panela ao lume, descasca batatas» ele não tirava as cascas das batatas era mais as batatas das cascas mas pronto!!! A primeira vez não lhe disse qual era a quantidade de sal, olha! despojou quase um quilo, tive que por batatas cruas para absorver o sal, mas!!! Não havia alternativa

 

Eu fui ao médico, ele entre outras coisas, receitou-me um xarope. Para tomar o xarope era necessária uma colher. O meu marido trouxe os medicamentos quando saiu do serviço. A casa onde morávamos, tinha vários quartos e esses mesmos quartos eram servidos por um corredor que se estendia da sala até ao fundo da casa, o meu quarto era o último do lado direito, de quem entrava, a cozinha era contígua a sala.

 

Chamei: «Semião» resposta: «senhora» «traz uma colher de sopa» fique a espera e espereiiiiiii e espereiiiiiii e continuei a esperaaaaaar! Até que disse ao meu marido: «ele nunca mais chega» acto continuo levanta-se o meu marido, quase que esbarra com ele. Ora a que é que se devia tanta demora????? O Semião interpretou á letra o pedido que lhe tinha sido feito «traz uma colher de sopa» e veio pelo corredor com uma colher cheia de sopa, muito devagarinho, para não entornar a mesma. Daqui se conclui que o pedido não foi feito num português correcto. Em vez de uma colher de sopa, devia ser uma colher das de sopa

 

Rosa cortez

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