30/12/2010

Maria Isabel

Tinha vinte e dois anos quando fui pela primeira vez, de um rapaz, que eu queria que fosse menina, mas não foi, mas depois de ele nascer não o trocava por todas as meninas do mundo. Quando o meu filho nasceu os médicos verificaram que ele tinha uma hérnia inguinal. Eu fiquei com muito medo pelo facto de ele chorar o intestino estrangulasse então resolvi contratar uma mulher, já adulta em quem eu pudesse confiar, para me ajudar a cuidar dele, enquanto eu fazia o trabalho da casa ela andava a entrete -lo para que não chorasse a empregada chamava-se Maria Isabel. A Maria´era a primeira mulher, de três, de um homem. e segundo a versão dela ele queria que ela, e as outras trabalhassem e ele nada fazia e ela resolveu deixa-lo e ir trabalhar. A Maria tinha três filhos, dois rapazes e uma menina que ficaram com a mãe dela. 
Passados uns dias de estar ao meu serviço a Maria começou a apresentar queixas de dores de barriga e ficava na cama. Eu não tive coragem de a mandar embora sabendo que estava doente cheguei a fazer todo o trabalho e a cuidar do meu filho, como podia
e a levar, á Maria, chá com analgésicos para as dores abrandarem, mas claro, abrandavam mas voltavam. Comecei a ver que havia algo mais complicado
Isto passou-se no xái xái.Havia lá uma missão suíça da Igreja presbetériana que tinha um médico formidável, até hoje ainda não encontrei outro, o dito médico atendia toda a gente mas o hospital estava mais virado para gente de cor cheguei a consulta -lo.
O médico estava no consultório a ver um doente, sorridente, simpático, bem disposto, isto, muitas vezes, depois de já ter atendido uma serie de pacientes, chegava uma mulher em trabalho de parto que precisava dele para uma cesariana. Largava o que estava a fazer e fazia o que tinha a fazer, a mulher era preparada pelas enfermeiras depois deixava a mulher e a criança entregue ás mesmas enfermeiras e vinha continuar o atendimento que tinha interrompido e trazia o mesmo sorriso·
Disse á Maria que fosse aquele médico, ela foi, da primeira vez o médico não a viu e as enfermeiras deram-lhe remédio para as lombrigas. Eu disse: não, Maria, isso não são lombrigas volta lá e diz que queres ser vista pelo médico à segunda ou terceira vez o medico viu-a e imaginem qual foi o diagnostico? A Maria tinha quistos nos ovários , tinha que ser operada. Nesse hospital havia, e há umas palhotas num largo onde os familiares dos doentes ficavam para lhes dar assistência, entre essa mesma assistência estava fazer-lhes, a comida pois eles não gostavam da comida do hospital.

Resolvemos mandar a Maria para o hospital para fazer a operação tratamento não era totalmente de graça, ela não tinha dinheiro, paguei eu, era pouco e ela depois pagava-me com o trabalho, paguei quatrocentos escudos. Era preciso também fazer o rancho para a mãe dela fazer a comida enquanto ela lá estivesse internada.fiz-lhe o rancho e a mãe dela veio dormir a minha casa uma noite. A velhota vinha do mato, não sabia uma palavra de português eu não sabia quase nada de landim, a Maria era interprete. A mãe chorava muito e falava mas eu não percebia nada e perguntava: o que esta a tua mãe a dizer? Ela respondia: está a dizer que tem medo que eu morra

No dia a seguir a Maria foi para o hospital, a mãe foi com ela, foi operada, tudo correu bem. Teve alta, veio para a minha casa e esteve comigo até eu me vir embora·
Tenho saudades dela e de todos os outros que estiveram comigo

Rosa Cortez


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